domingo, 21 de agosto de 2011

Projeções de um Cinéfilo

E começa o filme ...
Cadeiras com lugar marcado, encostos reclináveis e braços com porta-copos que nem sempre comportam os recipientes de refrigerante com mais líquido que meu  tanque de combustível . Para complementar o saudável cardápio, os combos de pipoca de proporções maiores que  meus baldes para estocar água nos dias de lavagem da caixa d'água do prédio. O Campo de visão agora é outro: limpo, claro e totalmente inalterado pelas grandes cabeças dos também pescoçudos que outrora sentavam na nossa frente, chegando minutos antes do filme começar. A acústica impecável, que não mais permite a intromissão dos acordes na praça da alimentação logo ao lado (uma vez tive que assistir Gladiador com MPB ao fundo) e a iluminação planejada que ambienta um clima finalizado por maravilhosas telas gigantes com projeções 3D para ver as legendas saindo do filme ou uma borboleta voando em nossa direção de vez em quando.

A experiência de ir ver um filme mudou muito com o passar dos anos e a chegada das super salas de cinema, que hoje funcionam nos shopping centers que odiamos amar tanto trazem uma falsa impressão de que não falta mais nada para a experiência de um cinéfilo ser inesquecível. No entanto, mesmo com tantas mudanças e evoluções tecnológicas, parece que algo ainda ficou faltando. O que será? Bons filmes? Às vezes sim, mas talvez não apenas isso. Há mais de vinte anos atrás existiam apenas, no lugar dessas fantásticas salas de entretenimento de hoje, os cinemas de rua com seus diversos tipos de salas de projeção caracterizadas, basicamente, em três tipos:
  • As Clássicas: Normalmente nos centro das cidades e funcionando em prédios imponentes que hoje deram lugar a bingos ou espaços religiosos e projetavam cada película como museus ostentando suas obras de arte. Recebiam seu público como espectadores de uma peça de teatro, com românticas cortinas cheias de mofo imperceptíveis a distância para misteriosamente esconder suas telas junto a um primeiro andar forrado de camurça vermelha numa frustrada tentativa de elegância que descia por terra quando as luzes se apagavam. O público que normalmente ocupava esse espaço era formado por pré-adolescentes exaltados, responsáveis por vários objetos não identificados que voavam nas cabeças daqueles do andar de baixo no apagar das luzes.
  • As Descoladas: Salas menores em lugares menos populares para a exibição de filmes de arte, documentários, propostas mais ousadas como o Corujão ou apenas aquelas obras de menor apelo comercial. Espaços muito aconchegantes e cheios de estilo que parecem nos transportar no tempo para várias décadas atrás, dando ao público uma sensação de ser muito especial. 
  • As XXX-Rated: Salas mais barra pesada, localizadas normalmente em bairros mais humildes e coincidentemente em frente a pontos de ônibus. Além de filmes pornográficos dos mais diversos tipos e com a maior variedade de espécies envolvidas nas cenas, exibindo também  películas com outro tipo de ação, como as de lutas marciais ou aquelas sem qualquer tipo de trama, repletas apenas de tiroteios que já começavam segundos após seu início e que poderiam até se estender para depois do programa do lado de fora, dependendo do horário que terminasse a sessão.
Hoje, poucos cinemas de rua ainda sobrevivem  e a tendência é que não mais existam ,com o passar dos anos. Para mim, o que mais vai deixar saudade é a sensação que estes proporcionavam ao entrarmos e sairmos de seus domínios. As filas dobrando as esquinas sempre vão me remeter à década de 80 e os sucessos dos Trapalhões ou qualquer nova obra que Spielberg lançava nas férias de julho. Já quando tudo terminava e as luzes se acendiam, a fabulosa sensação de deixar as quatro paredes  para encarar o vento no rosto, o entardecer e as primeiras estrelas no céu. Era uma sensação de continuidade da história, só que agora com outros atores e um novo cenário: Nós mesmos e nossas vidas ... com um pouco mais de magia.

9 comentários:

  1. Sessão nostalgia: cine São Luiz na rua da Aurora. Não é mais como aqueles cinemas lotados, cheios de estudantes eufóricos para ver "Arnold Schwarz-alguma coisa" matar pelo menos 90 figurantes (Certeza que muitos deles eram reproveitados em outras cenas). Mas com certeza o cine São Luiz ainda traz boa parte daquela emoção infantil de quando eu entrava no cinema e esperava as cortinas se abrirem. Vale a pena. Já te falei isso e já te convidei.

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  2. E a gente vai pô!! É só a gente sincronizar as agendas. :)

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  3. Tumulto na porta, polícia tentando conter os ávidos espectadores, grade de ferro da entrada aberta apenas 80 cm! Um monte de maloqueiros (e eu no meio) se empurrando e acionando os extintores de incêndio. GOST no Cine São Luiz, eu estava lá!!!!

    Parabéns pelo Blog

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  4. Caceta! Genial! Lembro de uma bagaceira assim quando fui assistir Batman 1. Toda vez que o Michael Keaton dizia "I´m Batman" a platéia ia abaixo inexplicavelmente. []ão brother!

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  5. Eu tava entre a sétima e oitava série, eu acho, e lembro que paguei pra entrar pelos fundos pra ver Rambo 3, rsrs. Diferente dos colegas que, mesmo com a mesma idade, tinham mais porte físico ou alguma "penugem" no rosto, o que lhes garantia a aparência de maior de 14 anos e, consequentemente, o acesso e a resenha no dia seguinte.
    Eram tempos de A Mosca, Rambo, Predador e Cobra, entre outros.

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  6. Pois é brother. O auge da popularidade era conseguir enganar o cara da catraca e entrar em filmes com a censura de 14 anos. Estava com saudades de seus comentários. []s

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  7. Desta nostalgia, me lembro do cine Piratininga. Não que eu tenha indo pois na década de 70 ele já estava fechado e foi um dos primeiros a virar estacionamento, mas ele já foi o maior cinema do Brasil e o engraçado é que falei com pessoas que assistiam filmes lá e disseram que quando lotava tinha gente que ficava atrás das colunas não conseguia assistir direito o filme.
    Agora nestes cinemas do FUTURO o que falta e a gente sentir o cheiro, mas se procurar algumas salas pelo mundo já oferecem isso... bybyby primo.

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  8. Eita, André, cê trouxe um turbilhão de lembranças! Entre elas:

    - fui com um grupo de amigos ao Cine Ideal para assistir ao Exterminador I. Um deles quase foi barrado, deu confusão, tinha idade suficiente, mas cara de moleque. O filme tinha censura 18 anos, só por causa da cena em que a Sarah Connor e o "cara que veio do futuro" produzem o futuro líder da resistência. Nas reprises da Globo, essa cena era (ainda é?) cortada, e entravam os comerciais da Plim-Plim;
    - meu tio ia nos levar ao cinema, mas tínhamos de escolher: ET (no São Luís) ou Os Trapalhões na Serra Pelada (no Ideal). Deu Trapalhões, fácil;
    - e as Lojas Brasileiras, hein? Filme no São Luís obrigava-me a uma passada na Lobrás, para suprimentos;
    - a única coisa que lembro do Cine Lux, lá na Ponta Grossa, é do cartaz de um filme sobre jacarés gigantes vivendo nos esgotos de Nova York! Mais Bêzão, impossível.

    Haja nostalgia...

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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