sábado, 25 de fevereiro de 2012

Por que amar Lisbeth Salander

Um dos grandes motivos da existência desse blog é o apreço pela arte de escrever, o dom de transformar idéias e reflexões em crônicas, poesias, contos e personagens marcantes. Karl Stig-Erland Larsson, escritor e jornalista sueco, desde meados dos anos 90 vinha se entregando incansavelmente a essa missão quando um infarto fulminante o impossibilitou de desfrutar do estrondoso sucesso de sua obra póstuma: A trilogia Milleniun, que já virou filme em seu país de origem e agora aterriza nos cinemas do mundo graças ao magnífico David Fincher. Confesso que fui ao cinema inicialmente apenas por isso, sequer me preocupando em me informar um pouco mais.  Eis que, para minha surpresa, deixo os 150 minutos de projeção bestificado por um enredo envolvente e inspiradíssimo, sob atmosfera da gélida e lúgubre Estocolmo e coroada por uma personagem densa, magistral e que já fez história.

A silhueta magra e pequena de um languido e pálido corpo repleto de tatuagens e piercings é de uma expressividade tão absurda quanto a eloquência e profundidade dos olhos de Lisbeth Salander. Colocada numa instituição psiquiátrica aos 12 anos de idade após tentar incendiar o próprio pai (que espancava sua mãe constantemente), foi liberada anos depois sob a condição de tutela. A partir daí, teve que lidar com psicólogos pervertidos e estupradores enquanto se tornava uma investigadora secreta, sociopata e perita em computadores. Dizem algumas manchetes que desde a era ABBA a Suécia não esteve tão em foco e pode-se dizer que tudo isso se dá pelo carisma da personagem. Contribuindo ainda mais com o fenômeno, o fato de seu criador não estar mais vivo  faz com que várias teorias e rótulos caiam sobre a mesma constantemente: ícone feminista do 3° milênio, guerreira gótica do mundo hacker e várias outras bandeiras que muitos adoram levantar em seu nome.

Muitos críticos  amam a personagem e outros afirmam que ela não representa coisa alguma. Não se pode afirmar quem está com a razão mas a minha escolha de amar Lisbeth Salander se dá pelo mesmo motivo de meu amor por Amelie Poulain, pela Berlin preta e branca de Win Wenders ou a Espanha colorida (mesmo que às vezes sombria) de Almodovar. Por poder viajar pela onírica Itália de Felini, a China mambembe de Jackie Chan ou, ainda mais longe, para os mágicos mundos de Tolkien, Tim Burton e tantos outros gênios. Amo Lisbeth Salander por ela me fazer lembrar de quantas coisas fabulosas ainda se  escondem de nós, muitas vezes logo ao nosso lado, já em outras separadas por oceanos até. Hoje, temos as ferramentas. Além do cinema, a Internet pode sempre nos ensinar a não nos conformarmos com hambúrguer todos os dias, ainda que as mesmas canções nunca deixem de tocar nas rádios.
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