segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Emancipe sua Mente

Dezesseis de Setembro.
Em dias de Emancipação, celebremos aqueles que ainda lutam por nossas cores. Pelo vermelho do sangue do Guerreiro, que jorra pelas veias das fitas que balançam ao vento e refletem nos espelhos a identidade do ontem que ainda quer ser amanhã. Pelo branco encorpado da Chegança, que no vinco afiado do terno do marujo aprumado, nos abraça devagar e vai chamando pra o mar. Pelo azul desse mar que sussurrou certa vez num gracejo pra o céu: "Vamos ser um só azul nos beijando logo ali onde a vista acabar?"

Pelas cores do Boi que balança, na magia do apito e se curva, sem se rebaixar, diante da força do nobre cajado pedindo licença quando vai passar.  Pelas cores da força do Maracatu. Na poesia, na dor e no amor do tambor, no estalo daquele agogô, no suor de uma marcação e nos calos da mão, abraçando aqueles gritam: "Eu não paro de sonhar! Não senhor! Paro não!". É a voz em defesa da arte que não pode falar.

Ter identidade não é se fechar para tudo. É ser visionário sem deixar de andar com o pé desnudo, pedindo que o calcanhar do juízo rache de tanto caminhar, somente para aprender quem de fato é você. É se permitir ser ingênuo e ainda ser sabido. É se valorizar sem tomar partido. É fatiar esse Estado como um tabuleiro de quebra-queixo e sentir quando a memória, meio assim de repente, quer de novo falhar. Pois não deixe falhar!!! Acenda com gosto a luz fraca desse candeeiro que a chama traz de volta as nossas três cores. Elas virão de novo com Diana, Mestra e Contra-Mestra. Voltam num passo macio, beijando o chão de sandálias e louvando no cantar a mensagem do pandeiro que sopra em nossos ouvidos: Quebre as correntes da mesmice! Somos ricos demais! Somos Alagoanos!!!

Nota: Alagoas é o Estado com a maior diversificação em folguedos. Segundo os estudiosos do folclore, são vinte e nove folguedos e danças genuinamente alagoanas. Valorize seu Estado e descubra que a sombra do muro do vizinho é boa mas o nosso sol pode ser ainda melhor. Feliz Aniversário Alagoas!!!!




domingo, 7 de abril de 2013

Quando a "!" Vazia e os "( )" Cheios se Encontraram

De repente, numa daquelas noites quentes e abafadas em seu "apertamento", o Parênteses entediado com sua vida tão cheia de pausas e indecisões decidiu sair por aí. Naquele mesmo momento, do outro lado da cidade, Exclamação saíra há tempos de casa. Vivia intensamente milhares de sentimentos sem tempo sequer de digerí-los de forma adequada. Num mundo cheio de Interrogações, ninguém conseguia derrubar a linda e esfuziante Exclamação. Quando ela chegava com seus cabelos vermelhos, soltos ao vento e sorriso perfeito refletindo o luar, todos os parágrafos mal intencionados do mundo paravam de tomar suas cervejas para desejá-la. Já o Parênteses, totalmente fora de forma, lutava constantemente para não ser apagado no meio da prosa e sonhava até mesmo em ser usado um dia por uma bela e sonora poesia.

Parênteses tinha muitos parentes (e amigos também) mas não se identificava muito com eles. Eram todos, em sua grande maioria, vírgulas complicadas e cheias de pantim. Ele estava cansado disso. Queria correr de olhos fechados sem medo de tropeçar, descer de cabeça pra baixo numa cachoeira de letras ou simplesmente tomar banho naquelas biqueiras numéricas que se formam dos telhados das casas quando chove torrencialmente. Exclamação tinha todas as frases do mundo a sua disposição. Não suportava o silêncio. Chorava muito quando ele vinha abraçá-la e por isso corria sempre de encontro ao desconhecido no intuito de esconder ou esquecer que precisava de um texto mais profundo em sua vida, já há algum tempo.

Na praia. No meio da noite. Foi assim que eles se conheceram. Uma festa aberta rolava na areia (daquela que assovia quando pisamos) com DJs alternando reggae, música eletrônica e a devastadora swingueira que apedreja sem pena os corações. Tinham um amigo em comum. Hífen, muito famoso por ligar elementos compostos os apresentou. A sintonia foi automática. Deram um ao outro o que tinham de melhor. Exclamação ficou menos intensa mas muito mais cheia de vida e não se sentia mais vazia por dentro. Parênteses não estava mais cheio de preocupações e sua timidez nem parecia ter existido um dia tamanho era o seu charme e desembaraço. Conversaram com os olhos, se tocavam o tempo todo com palavras e as horas da noite, que antes passava mais lentamente que o fim de um TCC, voaram mais rápido que a leitura de um folder.

Enfim nascia o sol mas nem precisava. Eles juntos tinham luz própria. Depois que se despediram, foram andando em direções opostas quando Parênteses lembrou que faltava algo. Voltou em sua direção e gritou para Exclamação, notando que ela já tinha virado também.
- Esqueci de uma coisa. Disse ele, coçando a cabeça.
- O quê? Respondeu ela já descalça, segurando as sandálias surradas numa das mãos.
Ele nem precisou dizer nada. Abriu os braços com toda força porque todo Parênteses adora um abraço. E ela, como toda Exclamação, correu com toda a sua energia e paixão, pulando no vazio para se encontrar com seu corpo, dando aquele tipo de abraço que ninguém pode esquecer. No meio do beijo que iluminava ainda mais a manhã, curiosos passavam olhando e se perguntando: Será mesmo possível juntar Parênteses e  Exclamação numa mesma frase?
Vai saber ...


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Pierrots, Colombinas e a Última Fuga

Enquanto a quarta-feira limpava as cinzas do carnaval com seus primeiros raios de sol e todos ainda dormiam, um dos sobreviventes do naufrágio no mar de colchonetes espalhados pelo chão da casa, passara a noite em claro. Usando o mesmo traje que ostentara durante toda a folia, sua sunga preta já tatuada no corpo e de elástico também cansado, tomava mais um café da manhã: Pão seda com queijo prato e cerveja. Em companhia de sua romântica embriaguez, começou a lembrar como foi lindo seu carnaval, iniciado quatro dias atrás. As trocas contínuas de fluidos corpóreos, a cor das serpentinas e purpurinas voando pelos céus e as marchinhas e hits de verão que embalaram beijos de enormes, mas voláteis paixões.

Do outro lado do espelho, o mesmo dia trazia de volta a luz do universo daqueles que buscaram fugir, durante todo o tempo,  da festa do povo. O  aquecimento da bateria das escolas de samba lhes deram brotoejas no corpo e a situação das guitarras, tão nobre instrumento imortalizado pelos deuses do Rock, quase lhes trouxe um mal irreparável. Vê-las escravizadas por bandas no embalo da  malemolente coreografia da vez era mais doloroso que ouvir o cavaco chorar. Refugiaram-se assim como rebeldes, no escuro de salas de cinema, em acampamentos, trilhas ecológicas ou simplesmente em suas próprias casas, aguardando naquele carinhoso bunker, que o bombardeio acabasse.

O fato é que esse período não passa despercebido por nenhum de nós. É nossa última chance de fugir da realidade antes que o ano inicie, entre em forma e comece de fato a nos bater. Adiamos assim essa luta por mais quatro dias pra deixar de pensar em como vencê-la e apenas brincar de sonhar. Nessa realidade distorcida, Pierrots e Colombinas fogem para deixam uma vida comum para trás, vivendo emoções sem fronteiras, sem cobranças, sem jogos nem regras, esvaziados de culpa e cheios de vida. Para eles, o importante é saber, que não há nada pra saber além do que estão vivendo. Já para outros membros da corte, o desejo é que seja um período de paz, sossego e reflexão, mas também com gostinho de fuga, de tanto trabalho que está por vir. No fim de tudo,o que realmente almejamos é que no meio de tanta diversidade, seja onde for e com quem quer que seja, tenhamos sempre o melhor carnaval de todos.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A Palavra Intraduzível e o Sentimento Indecifrável

Quando o vôo rasante da Dama que esmaga corações nos perpassa, o efeito de sua presença junto à sombra de nossos pensamentos vem com a força devastadora de um vírus sem cura. Seu gosto sem tempero arde no céu da boca, sua calidez nos mareja os olhos e sua onipresença naquele momento bombeia mais forte o sangue que vai ao coração, dilatando sem piedade as veias das lembranças contidas, das memórias mais sagradas e dos sentimentos tão especiais que já não mais vivemos, nem podemos abraçar como antes.

Quando tão bela e cruel companhia segura nossa mão, ficamos simplesmente perdidos, fora do eixo e sem saber como lidar com tamanho poder. Tentamos inutilmente entender porque a sentimos tão forte e tão perto, se o que ela nos traz tão longe está agora, mesmo que ainda pulse com força em nossas entranhas. Arrependimentos pelo que não foi dito. Culpa pelo que não foi feito. Dor por algo que não se pode mais desfazer. Que se afastem os maus sentimentos e coloquemos na mesa o banquete das lembranças com gostos que nos fazem bem.

Saudade da inocência perdida. Daqueles que amamos e já foram ou da família distante. Dos amores, paixões e amizades que o destino uniu em momentos marcantes. Onde anda aquele sorriso que nos quebrava ao meio ou aquele olhar que nos matava aos poucos? Que falta faz dividir bobagens que só aquele alguém entendia. Como é forte a saudade de casa para os que estão fora. Sentimos saudade do que fomos e do que já vivemos. Dói, mas ao mesmo tempo é gostoso sentir. A saudade é a prova que construímos um castelo com tijolos de jóias encrustadas em nossas vidas. É nosso alicerce, a nossa trincheira. É a fortaleza que nunca vai cair, seja qual for a arma, seja qual for a força. Nesse 30 de janeiro, dia nacional da Saudade, estava com saudade de sentir saudade. Espero que vocês também.

Nota: Uma pesquisa britânica com o apoio de mais de mil tradutores, gerou uma lista com as palavras mais difíceis de traduzir em todo mundo. A nossa "Saudade" , léxico exclusivo das línguas Portuguesa e Galega, ficou na sétima posição. Fica aqui homenagem do Capim, espaço tantas vezes marcado por ela.
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