segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Doutor Sócrates e o Infinito

Quando a camisa 8 entrava em campo, o gramado virava tapete para o desfile de um dos jogadores mais fabulosos que o mundo já viu jogar. Espetacular dentro das quatro linhas e revolucionário fora delas.  Na liderança de idéias visionárias para a gestão esportiva da época, fundou a sua própria democracia  e de seus companheiros. 

Na companhia rebelde de Casagrande e suas fulminantes investidas ao gol, de Biro-Biro e suas vigorosas arrancadas de meia arriada, da elegância jazzística de Vladimir e das milimétricas viradas de jogo de Zenon. De tantos talentos que reverenciavam à maestria de um gênio. Um gênio de passadas largas e trote medieval, passes precisos e calcanhar cirúrgico, gols fabulosos e comemorações de punhos cerrados como os Panteras Negras.

Com o manto Canarinho em 82, formou com Zico, Falcão, Cerezo, Júnior, Éder, Leandro e tantos outros artistas da bola, o melhor escrete de futebol que já vi desfilar pelos gramados do mundo. Comandados pelo Mestre Telê levaram todo o país às lágrimas, provando que esporte pode estar muito perto da arte, quando executado por imortais. O fato é que Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira poderia receber esse título.

Quis o destino que, quando saiu do país, fosse para a Fiorentina. Time da cidade de Florença, berço do Renascentismo Italiano. Mas a terra de Dante Alighieri e cenário de obras de Michelangelo, da Vinci, Botticelli, Rafael e Donatello não foi futebolisticamente digna de seu talento e logo voltou ao país, para anos depois se aposentar e cair nas armadilhas inebriantes que levaram ao seu fim. Quando deitamos o número 8, surge o símbolo do infinito. Com a última queda do Doutor Sócrates, eternizasse a imagem de um homem que fez história e em tempos onde o futebol é cada vez mais marketing do que talento, parece que foi embora um pedaço de nós. Um daqueles pedaços bons.

Obs: Mesmo tantos dias depois de seu falecimento, não poderia fazer o Capim retornar sem prestar essa singela homenagem a um dos meus ídolos de infância, mesmo não sendo corintiano. Fica em paz Doutor.
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