quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A Palavra Intraduzível e o Sentimento Indecifrável

Quando o vôo rasante da Dama que esmaga corações nos perpassa, o efeito de sua presença junto à sombra de nossos pensamentos vem com a força devastadora de um vírus sem cura. Seu gosto sem tempero arde no céu da boca, sua calidez nos mareja os olhos e sua onipresença naquele momento bombeia mais forte o sangue que vai ao coração, dilatando sem piedade as veias das lembranças contidas, das memórias mais sagradas e dos sentimentos tão especiais que já não mais vivemos, nem podemos abraçar como antes.

Quando tão bela e cruel companhia segura nossa mão, ficamos simplesmente perdidos, fora do eixo e sem saber como lidar com tamanho poder. Tentamos inutilmente entender porque a sentimos tão forte e tão perto, se o que ela nos traz tão longe está agora, mesmo que ainda pulse com força em nossas entranhas. Arrependimentos pelo que não foi dito. Culpa pelo que não foi feito. Dor por algo que não se pode mais desfazer. Que se afastem os maus sentimentos e coloquemos na mesa o banquete das lembranças com gostos que nos fazem bem.

Saudade da inocência perdida. Daqueles que amamos e já foram ou da família distante. Dos amores, paixões e amizades que o destino uniu em momentos marcantes. Onde anda aquele sorriso que nos quebrava ao meio ou aquele olhar que nos matava aos poucos? Que falta faz dividir bobagens que só aquele alguém entendia. Como é forte a saudade de casa para os que estão fora. Sentimos saudade do que fomos e do que já vivemos. Dói, mas ao mesmo tempo é gostoso sentir. A saudade é a prova que construímos um castelo com tijolos de jóias encrustadas em nossas vidas. É nosso alicerce, a nossa trincheira. É a fortaleza que nunca vai cair, seja qual for a arma, seja qual for a força. Nesse 30 de janeiro, dia nacional da Saudade, estava com saudade de sentir saudade. Espero que vocês também.

Nota: Uma pesquisa britânica com o apoio de mais de mil tradutores, gerou uma lista com as palavras mais difíceis de traduzir em todo mundo. A nossa "Saudade" , léxico exclusivo das línguas Portuguesa e Galega, ficou na sétima posição. Fica aqui homenagem do Capim, espaço tantas vezes marcado por ela.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Mudando de Pele

Chega uma época em que algo especial acontece. De repente, o ar fica mais pesado, as folhas das amendoeiras já não mais balançam e os sinais de trânsito parecem não mudar de cor. Como de súbito, vidas cansadas e intoxicadas pelas tarefas do cotidiano precisam urgentemente abrir parenteses no longo e contínuo parágrafo de sua existência. Surge assim uma alternativa, transvestida em pegadas para outros lugares, que atravessam o mapa em busca de um refúgio. 

Um refúgio de si mesmo é verdade, tudo em busca de uma outra forma de enxergar, de ouvir, de sentir e sobretudo de se conhecer. Ao viajar podemos tocar na face do desconhecido e chamá-lo para dançar, sem receio "dele" dizer não. Podemos sentir o céu com os olhos e beijar uma nova umidade que agora nos afaga a boca, como se fosse uma gota especial de orvalho reservada pra nós na floresta. Podemos ler o mundo sem escudos. Aqueles que usamos para nos proteger do mal, das pancadas que tanto machucam e nos revertem do avesso, mastigando e cuspindo de volta as entranhas da alma sem qualquer compaixão, só para ver se sabemos levantar depois de mais uma queda. Sim ... nós sabemos.

As mochilas, serão nossa armadura. Preenchidas por livros, documentos, passagens, roteiros e suprimentos para trilhar o caminho. Seja pela terra, pelo céu ou pelo mar, temos que ir. Simplesmente ir. Ir para depois voltar. Renovados, cheios de saudade e sentindo que somos cada vez mais capazes de nos reinventar, de continuar buscando e lutando sempre pelo que queremos ser. Isso mesmo Destino! Pode virar mais uma página e que a saga comece, mesmo que ainda não tenhamos uma pista sequer de onde isso vai nos levar. É com os pés na estrada, que desejo um feliz novo ano pra todos. Vamos viver ...
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