quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Males Crônicos Urbanos #1

Ontem foi comemorado o dia do cliente. Como todos os dias acabamos vivendo esse papel, mesmo que às vezes involuntariamente, é interessante parar para refletir o caminho que a sociedade está tomando no que se diz respeito ao assunto, já que essa é apenas mais uma data comemorativa disfarçada para incentivar algo muito maior.
Desde a geração de cupons de oferta de necessidades não tão necessárias dispostas nos sites de compras coletivas, passando pelos devaneios hipocondríacos dos amantes leitores de folhetos promocionais das farmácias até a farsa das pseudogrifes nas vitrines que vendem muito mais um status do que um produto, vários são os retratos que simbolizam um dos males crônicos  mais presentes do mundo contemporâneo: O consumismo desenfreado.

O locutor raquítico de blusa pólo monocromática com sovacos molhados anuncia no supermercado, por meio de sua voz paradoxalmente aveludada, uma nova oferta relâmpago. Um silêncio de segundos ... todos ouvem atônitos a novidade e a resposta corporal é mais rápida que os reflexos de Usain Bolt. Vamos correr! Está em promoção! É preciso comprar antes que acabe e em casa é que vemos se vai servir. Em outro habitat, não menos hostil, senhoras de meia idade se estapeiam nos grandes varejos de moda têxtil e fazem acrobacias como Jackie Chan para conseguir o metro quadrado daquela peça que está quase de graça e pode servir para costurar o vestido da neta que nem tem tamanho mas já quer mesada e sonha em viver a vida das adolescentes coloridas e vazias das novelas emburrecentes.

A criação de tantas datas comemorativas para se gastar e liquidações coletivas que tentam revitalizar, com crediários tão longos quanto a saga dos Cavaleiros do Zodíaco, a ressaca das compras anteriores diminuem cada vez mais a duração dos intervalos entre os períodos de consumo em massa e tudo parece não ter limites. Se devemos mesmo comprar alguma coisa porque é dia das mães, pais, namorados ou do amigo, o que teríamos que fazer no dia do cliente? Se no dia do professor não é para se lecionar, poderíamos usar o dia do cliente para nada consumir e tirar esse momento para ao menos pensar nessa força invisível, tão poderosa quanto a de Anakin Skywalker, que tanto nos manipula e pode trazer tantos problemas quando mal absorvida. Por fim, estar consciente de que algo pode estar errado já é um começo e fica aqui o recado. É como diria Falcão, em uma de suas várias e  geniais estrofes:

"Eu não tenho culpa se a programação
Tenta a todo custo me tornar um jumento
A ponto de fazer eu passar 36 meses
Pagando a geladeira sem ter o que botar dentro"

Até a próxima compra. Digo ... post. :)

2 comentários:

  1. "E tudo parece não ter limites." Perfeito, André, é bem por aí mesmo.

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  2. Como diz Gustavo Cerbasi, "num Brasil em que o desperdício e a esnobação são referência de consumo, o hábito de pechinchar acaba sendo entendido como atitude avarenta, mesquinha e desconfortável. Uma negociação de compra e venda parece-se mais com uma relação social entre compradores e vendedores do que com um desafio entre partes com interesses opostos.
    Outro problema ocorre no mau hábito -tipicamente brasileiro- das compras parceladas". Definitivamente não sabemos comprar!!!!!

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