domingo, 2 de outubro de 2011

Letras na Escuridão

Páginas que agonizam e quase não mais respiram. Há tempos fechadas, sem luz, sem calor ou qualquer tipo de interação, excetuando-se apenas as esporádicas arrumações de prateleira. O paradoxo da alegria e diversidade das capas, de tantas cores e texturas, mas tristemente dispostas no retangular universo das frias e abandonadas estantes, populadas apenas pelos invisíveis moradores que catalizam renite alérgica. A descrição  é da rotina dos livros, revistas e enciclopédias que passam o resto de seus dias nos poucos "sebos" ainda espalhados pelas cidades brasileiras mas bem que poderia ser usada para retratar a atrofia mental de um país e o delinear  de um cenário que se multiplica cada vez mais, sobretudo nas regiões mais pobres e desprovidas de educação: O distanciamento gradual do hábito da leitura.

É bem verdade que existem exemplos que mostram o contrário, tanto de forma aparentemente isolada, mas rapidamente multiplicada pela capilaridade dos blogs e redes sociais, como também em eventos maravilhosos mas elitizados demais e/ou muito distantes (em vários aspectos) do povo em geral.  O abismo intelectual que separa uma minoria do país de sua grande maioria com diferentes graus de analfabetismo é de uma profundidade absurda . E o que ainda é pior: Esse "privilégio" não é apenas daqueles na linha da pobreza. Quantos que tem, tiveram ou terão acesso a uma boa educação não estão nada interessados nessa oportunidade?

A analogia da vida em câmera lenta nos alfarrábios com a estagnação literária que assola tantas gerações não foi usada por acaso nesse BLOG. É de uma assustadora coincidência  que a localização dos principais pontos de venda de livros e revistas usadas da cidade fique justamente nas costas da Assembléia Legislativa do Estado, um local que aqui carinhosamente chamamos de "Paredão". Podemos chamar de cruel ironia mas a luta desses microempresários para continuar seu ofício é tão isolada quanto a importância dada pelos "representantes do povo" à educação do país e o conteúdo das revistas e dvds pornográficos, campeões de vendas nos sebos dos subúrbios brasileiros é tão explícito quanto nossos sentimentos de impotência numa nação cada vez mais refém da política do Pão & Circo. O que fazer? Para onde ir e em qual direção? Continuemos ao menos fugindo do escuro  ... e que os livros sejam nosso farol.

Nesse mês, apesar de não gostar de anunciar assuntos de textos futuros para não gerar um compromisso,  a idéia é que o Capim faça homagens à leitura e a educação, uma vez que outubro é o mês do livro e dos professores. 
Até a próxima então! :)

3 comentários:

  1. Pois é menino, quantos q tem, tiveram ou terão acesso a uma boa educação, na maioria das vezes de graça e não estão nada interessados nessas oportunidades. Ah! se eu encontrasse alguém que quisesse investir em mim, assim como várias empresas em seu público, aí você iria ver! Oportunidades não faltam, mas, pessoas com a intenção de se qualificar/profissionalizar, essas sim, estão escassas! A culpa é de quem?

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  2. Grande Aranha!

    Gosto muito dos seus textos. Vez por outra me pego relembrando da minha vida em Maceió após lê-los.

    Infelizmente esse seu texto relata uma triste realidade do nosso país, em especial, mas não exclusivamente, das regiões mais pobres como a nossa.

    Para não acharmos que está tudo perdido e para percebemos que com boa vontade e trabalho nem tudo está perdido, remeto a uma reportagem que li faz algum tempo.

    http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/em+cocal+dos+alves+nada+e+mais+importante+que+competicoes+educacionais/n1597057185707.html

    Grande Abraço e parabéns pelo blog.

    Heitor

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  3. Grande André, os sebos andam tão esquecidos que muitas vezes sequer são conhecidos. Ao ler seu post e comentar um garoto meu parente, tive que começar explicando o que é um sebo... pra depois continuar a explicação do que é leitura e sua importância. É triste, mas é a realidade nua e crua em forma de capim no meio fio.
    Abração.
    Thyago Sampaio

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