quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O Cheiro do Toque na Orelha

O primeiro contato  é normalmente bem superficial ... despretensioso até mesmo. Às vezes, baseando-se apenas nas aparências, a atração começa pelas capas. Coloridas, ousadas e criativas como os anos loucos dos gênios ou monocromáticas e minimalistas como o Álbum Branco, compensando a ausência de pigmentos pela profundidade de seu conteúdo.

Mas quem vê capa não vê coração. Corações de tantos personagens inseridos em obras nas mais variadas proporções. Desde as pequenas com grandes histórias que cabem no bolso até as maiores que insistentemente não se encaixam nas prateleiras, sempre à procura de novas companhias. Ora magérrimos e elegantes, bulimicamente despejando palavras em nossas mentes, ora grossos e densos encantando gerações com o peso de épicos apaixonantes ou romances apaixonados.

De repente, a era moderna os coloca em xeque, sugerindo seu fim. De um lado, o prazer sensitivo de descobrir seus segredos no dobrar das orelhas, no sustentar do peso das páginas ou cheirando a fragrância de cada palavra grafada no branco fosco das folhas. De outro, o dilema de suas versões digitais: Destruir ou coexistir com seus antecessores? Procurando cumprir a promessa de democratizar o acesso ao conhecimento, podem revolucionar a forma de pensar das novas geraçõesmas a ciência ainda busca seu formato ideal. Versáteis como o escrete de Rinus Michels, portáteis, mágicos e sedutores mas ainda incompatíveis com o saldo de tantas contas bancárias e cruéis inimigos de nossas retinas.

Será mesmo o destino? Depois dos escritos nas pedras, das tábuas de argila, do papiro e da revolução de Gutemberg, serão eles convertidos para 0s e 1s na Grande Rede? Bibliotecas mudarão para as nuvens? Estantes se tornarão diretórios? Números e estatísticas apontam que sim, testemunhos de peso apostam que não. No mês do Dia nacional do livro, deixamos a dúvida mas prestamos nossa homenagem à sua missão, ainda mais grandiosa que sua forma: engrandecer nossas mentes, encantar nossas vidas.


Nota: Aproveitemos o ensejo da data comemorativa e vamos para festa de aniversário. :)



6 comentários:

  1. Muito bom texto, Dezito! O livro não vai morrer, apenas mudará de formato, mas é uma realidade que ainda vai demorar para se consolidar. De qualquer forma, seja no formato impresso ou digital, há de se rever o alto custo cobrado na compra de livros: depois este país se pergunta como é possível que apenas a cidade de Buenos Aires tenha mais livrarias que todo o Brasil. Se estamos vivendo de fato a sociedade da informação, este conhecimento precisa ser democratizado.

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  2. Oi André,

    Valendo um milhão de reais? Eis uma pergunta para qual não arriscaria resposta. :D
    Posso falar do que sinto: ainda gosto muito do bom e velho papel. Confesso que ainda sinto prazer no folherar, marcar o ponto de leitura.
    O que falar de poder ir a livraria então? Passear por entre as estantes... flertar com alguns livros...garimpar alguns desconhecidos.
    Também sinto um prazer em olhar para minha pequena estante com certo orgulho.
    Parabéns pelo texto!

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  3. adorei! como sempre posts maravilhosos!! parabéns!

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  4. Imagine que vamos perder a oportunidade da descoberta ao acaso do diferente, quando distraídos passamos os olhos na estantes e, naquele exato momento, algo desperta e nos surpreende. Se deparar com o novo e diferente é algo que o mundo digital poda nas pessoas. Cada vez mais, as redes sociais fecham o cerco intelectual de seus usuário com sistemas de sugestão baseados no seu perfil, no seu passado. Então como descobrir o novo? A estante é muito mais eficiente neste aspecto.

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  5. Olá, meu velho!

    As lojas/seções de brinquedos e livros sempre me fazem investir tempo, mesmo que eu não invista dinheiro.
    E quanto à substituição pelos 0 e 1 de Boole, posso te dizer que li uns 2 ou 3 na tela e não é a mesma coisa; parece que a gente memoriza mais o tradicional.
    Abração!!

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  6. André,


    Já disseram que muitas coisas iam substituir muitas coisas, mas até agora estão aí. O livro até pode ser substituído em massa pelos "Ais" da vida, mas tenho certeza que nunca acabará.

    O cheio dele, sua orelha, tudo que ele tem dentro, jamais deixará de existir, porque é amor à primeira vista e eterna realmente para sempre, não só enquanto dure.

    Acho que os livros obrigatórios - aqueles de faculdades - serão substituídos, já estão na verdade, pelos "ais" da vida. Aí sim, mas aquele teu livro de cabeceira é aquele da minha declaração de amor acima.

    Abs, meu caro!

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