Um dos grandes motivos da existência desse blog é o apreço pela arte de escrever, o dom de transformar idéias e reflexões em crônicas, poesias, contos e personagens marcantes. Karl Stig-Erland Larsson, escritor e jornalista sueco, desde meados dos anos 90 vinha se entregando incansavelmente a essa missão quando um infarto fulminante o impossibilitou de desfrutar do estrondoso sucesso de sua obra póstuma: A trilogia Milleniun, que já virou filme em seu país de origem e agora aterriza nos cinemas do mundo graças ao magnífico David Fincher. Confesso que fui ao cinema inicialmente apenas por isso, sequer me preocupando em me informar um pouco mais. Eis que, para minha surpresa, deixo os 150 minutos de projeção bestificado por um enredo envolvente e inspiradíssimo, sob atmosfera da gélida e lúgubre Estocolmo e coroada por uma personagem densa, magistral e que já fez história.
A silhueta magra e pequena de um languido e pálido corpo repleto de tatuagens e piercings é de uma expressividade tão absurda quanto a eloquência e profundidade dos olhos de Lisbeth Salander. Colocada numa instituição psiquiátrica aos 12 anos de idade após tentar incendiar o próprio pai (que espancava sua mãe constantemente), foi liberada anos depois sob a condição de tutela. A partir daí, teve que lidar com psicólogos pervertidos e estupradores enquanto se tornava uma investigadora secreta, sociopata e perita em computadores. Dizem algumas manchetes que desde a era ABBA a Suécia não esteve tão em foco e pode-se dizer que tudo isso se dá pelo carisma da personagem. Contribuindo ainda mais com o fenômeno, o fato de seu criador não estar mais vivo faz com que várias teorias e rótulos caiam sobre a mesma constantemente: ícone feminista do 3° milênio, guerreira gótica do mundo hacker e várias outras bandeiras que muitos adoram levantar em seu nome.
Muitos críticos amam a personagem e outros afirmam que ela não representa coisa alguma. Não se pode afirmar quem está com a razão mas a minha escolha de amar Lisbeth Salander se dá pelo mesmo motivo de meu amor por Amelie Poulain, pela Berlin preta e branca de Win Wenders ou a Espanha colorida (mesmo que às vezes sombria) de Almodovar. Por poder viajar pela onírica Itália de Felini, a China mambembe de Jackie Chan ou, ainda mais longe, para os mágicos mundos de Tolkien, Tim Burton e tantos outros gênios. Amo Lisbeth Salander por ela me fazer lembrar de quantas coisas fabulosas ainda se escondem de nós, muitas vezes logo ao nosso lado, já em outras separadas por oceanos até. Hoje, temos as ferramentas. Além do cinema, a Internet pode sempre nos ensinar a não nos conformarmos com hambúrguer todos os dias, ainda que as mesmas canções nunca deixem de tocar nas rádios.
Realmente, o filme é interessante. E a personagem, cheia de nuances. Excelente sua reflexão também. Só um parêntese: creio que Lisbeth chegou a incendiar o pai, porém não conseguiu matá-lo.
ResponderExcluirSim João, é isso mesmo ... O coroa escapou. Obrigado por comentar meu amigo. :)
ExcluirOlá André!!
ExcluirGostei muito do seu texto e também do filme e de Lisbeth! ;) Adorei a idéia deste blog (que estou conhecendo só agora) e quero te parabenizar e dizer que continue sempre a escrever e nos mostrar reflexões interessantes como essa. :)
Até mais
Sunny
Que bom que vc gostou Sunny.
ExcluirEspero que continue aparecendo por aqui. ;)
Obrigado por voltar a escrever... estava sentindo falta da leitura.
ResponderExcluirMuito bom! Fiquei ainda mais instigada à assistir o filme!! Sdd André Lins
ResponderExcluirMajuuuuuuuu! Não tem do que agradecer. Estava sentindo falta de escrever tmb. ;)
ResponderExcluirAndré, você tem toda razão! Precisamos nos reinventar a cada dia.Viver cada dia como se fosse o último, aproveitar bem cada instante!
ResponderExcluirEu não dava nada por esse filme e o evitei ao máximo, até o dia em só havia ele para assistir. Me surpreendi, genial! Adorei!!!
Parabéns pelo texto! Parabéns por esse dom que Deus te deu!
Com o texto do André fiquei com vontade de assisti-lo. Parabéns pelo texto genial.
ResponderExcluirFernandinho, não deixe de assistir que vale a pena mesmo. Acho que essa é a última semana em cartaz. []s :)
ResponderExcluirMais um belo texto...
ResponderExcluirParabéns!!!
a personagem de Lisbeth Salander é essencial para a história mas a da versào americana, a Rooney Mara, vamos combinar, é bem fraquinha...
ResponderExcluirA Noomi Rapace, que faz o papel dela na filmagem original da trilogia dá um banho... faz a Rooney Mara parecer uma freira carmelita...
P.S.: Não conhecia o blog. O Alexandre me indicou. Muito bom o nível ! Parabéns !
ResponderExcluirRapaz, ainda não vi a versão Sueca do filme mas já está na minha lista. Agora, você pode até ter razão sobre a intérprete mas acho difícil o diretor da outra versão bater o David Fincher. Abraços e obrigado por participar. ;)
ResponderExcluirEu já vi o filme OS HOMENS QUE ODEIAM AS MULHERES e já li o livro A RAPARIGA QUE SONHAVA COM UMA LATA DE GASOLINA E UM FOSFERO.
ResponderExcluirAdorei e tenciono comprar os outros livros.