Os lentos e pesados passos após insones segundos na escada rolante, que hoje nem é mais escada (já que agora viraram exibidas esteiras de metal), nos colocam de novo à frente do mesmo quadro: a compacta e sofrida visão dos carrinhos que esperam. Esperam e sonham que alguém os escolha para mais um breve passeio. Passeio que os libertem, mesmo por minutos, de suas vidas. Tão paradas, vazias e sem sentido quanto conversa de elevador com o vizinho chato do prédio.
Às vezes, até mesmo suas rodas, travando por falta de manutenção, estragam a parte mais feliz da jornada: o ato de fazer as curvas entre as seções, que se torna mais tenso que exame do Detran sem direção hidráulica. A ordem das prateleiras, aparentemente a mesma de sempre, é uma grande farsa. Na calada da noite, algum perverso agente de camisa pólo mudou de lugar justamente algo que precisamos e, no meio do trajeto, descobrimos que é necessário voltar. A já amassada lista de compras, o cupom das ofertas da semana e o panfleto da farmácia em anexo (que ainda iríamos hipocondriacamente visitar) são descartados. Não existe mais (se é que existiu algum dia) beleza nos corredores úmidos e coloridos. Acaba a paciência de desmascarar placas com falsas promoções e de ler com atenção os rótulos de cada um dos produtos, estrategicamente impressos em fontes minúsculas por seus fabricantes. Jogamos tudo no carro para terminar o suplício o quanto antes pois já dói nosso peito e falta muito pouco para o sorvete e as polpas de fruta deixarem nosso mundo.
De forma cada vez mais cruel, os dilemas persistem e chega a hora da última das escolhas: A fila "rápida" e longa ou a bem pequena com só mais um condenado em nossa frente (cujas compras dão sempre problema na hora de passar o preço ou acaba a bobina do caixa na hora de gerar a nota). Dessa vez a escolha não fez diferença. Depois de horas de espera, desfile de cada item na esteira e embalagem nas sacolas, enquanto admiramos a desenvoltura da mulher dos patins, a central do cartão resolve ficar fora do ar no hora do pagamento. Outras tentivas em vão ... deixemos tudo pra trás. O carrinho, as compras e momentos da vida que não vão mais voltar. Pelo menos até semana que vem ...
Então! Isso me fez lembrar nosso amigo TBS, que certa vez relatou algo parecido no que diz respeito à hora do caixa. Bom texto André, um pouco melodramático, não sei se é esta a palavra, mas foi proposital que eu sei! Parabéns :)
ResponderExcluirCompanheiro, mesmo pra quem como eu, tem filho pequeno e usa o supermercado como quase um programa de lazer (para ele) compartilho muitos de seus dramas e lembro ainda de um pitoresco episódio ocorrido comigo: Depois de cumprir a árdua missão de conseguir tudo que estava na lista tive meu carro "roubado" por alguém que se confunfiu e trocou de feira.
ResponderExcluirAbraço
Sem contar que a fila do lado sempre anda mais rápido que a sua...
ResponderExcluirBem lembrado nobre amigo Play, bem lembrado. ;)
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