Quando aquele silêncio surge dentro de nós parecendo não querer sair e a engrenagem que faz nosso mundo girar perde o rumo, vem aquela sensação de novo. Como se um beijo do impossível nos tocasse a boca, o coração aperta, as idéias desfocam e as câimbras, que vão das panturrilhas até as arestas da alma, sinalizam que a música mais uma vez, precisa nos salvar.
Subitamente, indo para o trabalho, em meio à sinfonia urbana dos carros, baquetas invisíveis queimam nossas mãos atacando o volante, em resposta às batidas que saem das caixas de som. O acelerador e a embreagem viram pedais e as caras e bocas que tanto fazemos se camuflam pelo vidro fumê. De repente, a chave da ignição desliga a magia, anunciando o início de mais uma jornada diária. Aberturas de ordens de serviço, leitura de e-mails, elaboração de projetos, relatórios nonsense, reuniões pra marcar reuniões e outros recursos corporativos criados por seitas adeptas do suicídio coletivo surgem sempre pra nos entreter. Minutos, viram horas, horas viram dias e dias só não viram anos por conta de nosso amigo ... o fone de ouvido! Que nos transporta de novo para aquele mundo, ainda que de forma intermitente e mais contida.
Ao fim do expediente já em casa, o vazio da sala pede mais uma dose e apertamos o play. Enquanto a guitarra imaginária gentilmente chora por nós, poderosos acordes dilatam nossas veias, agitando cada neurônio quando se aprende a voar, voar pra bem longe. Bem longe ... nem sabemos ao certo onde é mas parece o melhor lugar do mundo pra fugir nessas horas. Dançando sozinho (o mais belo dos micos), fazendo mosh no sofá e até mesmo acertando na parede aquela parte do cotovelo, nada pode abalar esse transe. Acontece que o fim da canção, desgastada pelo modo repeat, e o cansaço do corpo pede para fecharmos o dia, torcendo por um amanhã melhor. Mas isso não livra de sua missão o surrado frasco de shampoo que insiste em não acabar. Na hora do banho e com o melhor dos microfones, o show não pode parar ...
Ao fim do expediente já em casa, o vazio da sala pede mais uma dose e apertamos o play. Enquanto a guitarra imaginária gentilmente chora por nós, poderosos acordes dilatam nossas veias, agitando cada neurônio quando se aprende a voar, voar pra bem longe. Bem longe ... nem sabemos ao certo onde é mas parece o melhor lugar do mundo pra fugir nessas horas. Dançando sozinho (o mais belo dos micos), fazendo mosh no sofá e até mesmo acertando na parede aquela parte do cotovelo, nada pode abalar esse transe. Acontece que o fim da canção, desgastada pelo modo repeat, e o cansaço do corpo pede para fecharmos o dia, torcendo por um amanhã melhor. Mas isso não livra de sua missão o surrado frasco de shampoo que insiste em não acabar. Na hora do banho e com o melhor dos microfones, o show não pode parar ...
Simplesmente genial! Tanto o texto quanto o tema. Amei.
ResponderExcluirMuito bem escrito!!!
ResponderExcluirEu já cheguei a largar o volante numa curva, porque era uma virada imperdível (o berro de Creep (Radiohead)), e eu PRECISAVA "fazê-la".
ResponderExcluirParabéns, irmãzinho!!
É Andrezito,
ResponderExcluirante a dureza de nossa rotina, um ópio a alma... Música é um fuga consciente do inconsciente, um encontro magnifico entre o que sentimos / vivemos e a possibilidade de revelar isso de forma tácita, sem que deixemos cair nossa armadura...
Sentir a melodia e acompanhar suas batidas com nossos instrumentos imaginários é uma forma de dizer a nós mesmos que ainda estamos vivos. Que ainda estamos ali de alguma forma... que o eu que construímos - e que somos obrigados a esconder - ainda existe dentro de nós.
... o triste é que com o tempo, se não perseverarmos, até essa magia acaba. As músicas deixam de ser reveladoras de sentimentos... passam a nos machucar. Transformam-se na forma mais cruel de lembrança... trazendo-nos a saudade de sentir o que sentíamos... pois chega uma hora que nenhuma melodia nos embala.
É isso, adorei seu texto!
:*
Nossa! Vou tomar cuidado pra isso não acontecer. Adorei o coment tmb. :*
ExcluirPor onde anda Fênix?
ResponderExcluirLindo texto. Linda interpretação! Parabéns pela sensibilidade aguçada que conseguiu me remeter a exata situação narrada no texto. Muitoo bom, bjO
ResponderExcluirObg Lília. Continue a nos seguir e continue ajudando o Capim a crescer no meio-fio. ;)
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