sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Pierrots, Colombinas e a Última Fuga

Enquanto a quarta-feira limpava as cinzas do carnaval com seus primeiros raios de sol e todos ainda dormiam, um dos sobreviventes do naufrágio no mar de colchonetes espalhados pelo chão da casa, passara a noite em claro. Usando o mesmo traje que ostentara durante toda a folia, sua sunga preta já tatuada no corpo e de elástico também cansado, tomava mais um café da manhã: Pão seda com queijo prato e cerveja. Em companhia de sua romântica embriaguez, começou a lembrar como foi lindo seu carnaval, iniciado quatro dias atrás. As trocas contínuas de fluidos corpóreos, a cor das serpentinas e purpurinas voando pelos céus e as marchinhas e hits de verão que embalaram beijos de enormes, mas voláteis paixões.

Do outro lado do espelho, o mesmo dia trazia de volta a luz do universo daqueles que buscaram fugir, durante todo o tempo,  da festa do povo. O  aquecimento da bateria das escolas de samba lhes deram brotoejas no corpo e a situação das guitarras, tão nobre instrumento imortalizado pelos deuses do Rock, quase lhes trouxe um mal irreparável. Vê-las escravizadas por bandas no embalo da  malemolente coreografia da vez era mais doloroso que ouvir o cavaco chorar. Refugiaram-se assim como rebeldes, no escuro de salas de cinema, em acampamentos, trilhas ecológicas ou simplesmente em suas próprias casas, aguardando naquele carinhoso bunker, que o bombardeio acabasse.

O fato é que esse período não passa despercebido por nenhum de nós. É nossa última chance de fugir da realidade antes que o ano inicie, entre em forma e comece de fato a nos bater. Adiamos assim essa luta por mais quatro dias pra deixar de pensar em como vencê-la e apenas brincar de sonhar. Nessa realidade distorcida, Pierrots e Colombinas fogem para deixam uma vida comum para trás, vivendo emoções sem fronteiras, sem cobranças, sem jogos nem regras, esvaziados de culpa e cheios de vida. Para eles, o importante é saber, que não há nada pra saber além do que estão vivendo. Já para outros membros da corte, o desejo é que seja um período de paz, sossego e reflexão, mas também com gostinho de fuga, de tanto trabalho que está por vir. No fim de tudo,o que realmente almejamos é que no meio de tanta diversidade, seja onde for e com quem quer que seja, tenhamos sempre o melhor carnaval de todos.

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